segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Gol contra



A Copa do Mundo em 2014, no Brasil, divide os jornalistas brasileiros em dois blocos. De um lado os ufanistas ou chapa branca afirmando que a competição será um sucesso e benéfica para a população. No corner oposto estão os profissionais de comunicação que não cansam de denunciar barbáries em nome da competição máxima do futebol mundial e alertando a falta de estrutura do país para abrigar um evento deste porte. Eu me encontro no segundo pelotão, com muito orgulho. Sediar a Copa do Mundo será um golaço, pena que contra!

Desde 2008 a economia brasileira cresce abaixo do projetado. Um sintoma evidente de que não somos invulneráveis a crise mundial. O déficit estrutural para abrigar grandes eventos esportivos (estádios sucateados) fez o Brasil investir bilhões em novas arenas. Grana que sai do meu, do seu, do nosso bolso. Não existe um percentual de quanto dinheiro público foi investido, mas é bem mais do que o inicial previsto. Aliás, o torneio não seria todo bancado com recursos privados?

O Brasil vai gastar muito além da conta. Olhem o exemplo da Grécia que com uma economia em frangalhos (ok, não é bem o nosso caso, mas ainda existe uma extrema desigualdade social para recuperarmos) tomou a sábia decisão de sediar os Jogos Olímpicos de 2004. A casa caiu para os helênicos e hoje os caras precisam rezar a cartilha da União Europeia para não virar uma Etiópia com grife.

E não me venham com essa história de legado. Papo furado para enganar trouxa. O Pan no Rio de janeiro, em 2007, foi um exemplo claro. As instalações encontram-se sucateadas ou foram colocadas abaixo. Com os estádios, quer dizer arenas, vai ser a mesma coisa. A média de público no campeonato do Distrito Federal é de dois mil pagantes. Entretanto, construíram uma obra de 900 milhões de reais para 70 mil pagantes. Seria necessário o Flamengo se mudar para Ceilândia para o investimento valer a pena. Ou a Madona fazer um show por mês na capital federal.

Cidades com time tradicionais - que lotam estádios - como Belém e Florianópolis ficaram à margem do processo sendo preteridas por Manaus e Cuiabá onde o campeonato local é do mesmo nível do Candago. Não que fosse resolver o problema, mas pelo menos diminuiria o tamanho do rombo e minimizaria os elefantes brancos espalhados no “País Tropical Abençoado por Deus”. Será que vamos superar a África do Sul em estádios sem serventia?

As obras de infra-estrutura é o primeiro argumento da turma favorável a Copa 2014. Quer dizer que precisa sediar um evento para garantir obras? Isso deveria acontecer independente do Mundial. E olha que fora a questão dos aeroportos e investimentos em saneamento básico, nem sou a favor de transformar as principais capitais brasileiras em canteiros de obras. Um trecho do estudo dos especialistas norte-americanos Andres Duany, Elizabeth Plater-Zyberk, e Speck Jeff mostra que a abertura de vias não evita congestionamentos. Pelo contrário: as pessoas passam a utilizar mais os carros e entopem as cidades. Como a maioria das obras são viárias (as de investimento em transporte coletivo correm o riso de não sair do papel), considero este argumento um tiro no pé.

Mas a Copa 2014 vai servir para algumas classes, como políticos e donos de empreiteiras. Esse vão forrar o bolso, mesmo com a vigilância da Dilma. Na hora do aperto (quando a imprensa mostrar os atrasos nas obras às vésperas do torneio) neguinho vai dizer que não dá tempo para fazer licitação e aí será dada a largada para o estupro dos cofres federal, estadual e municipal. Se bem que a farra já começou. Cada dia jorram na imprensa, a do segundo grupo, denuncias de estouro de orçamento em estádios e em obras de infra-estrutura.

Para finalizar, é balela dizer que o Brasil precisa sediar a Copa do Mundo por que é o país do futebol. Bobagem. Nossa média de é ridícula perto das grandes ligas europeias. O Brasil tem apenas três clubes (ficamos no décimo lugar na pesquisa) entre as 100 maiores médias de público do mundo, segundo estudo produzido pela Pluri Consultoria. E o clube brasileiro mais bem colocado na lista disputou a Série D do Brasileirão em 2011, ano que serviu como base para a pesquisa: o Santa Cruz está em 39º, com 36,9 mil pessoas por jogo. Corinthians (65º, com 29,4 mil) e Bahia (em 100º, com 22,7 mil) são outros brasileiros no Top 100. A Alemanha tem 22 clubes nesta lista, a Inglaterra 20 e a Espanha 12.

Pesquisa feita em 2012 revela que em primeiro lugar, antes do Flamengo – 18% dos brasileiros são torcedores do time carioca -, vem os desinteressados pelo esporte. Na Argentina, os que não curtem o esporte bretão estão apenas em terceiro lugar, atrás dos fãs de Boca Juniors e River Plate. Para piorar, as arenas ainda vão elitizar o esporte devido ao aumento no preço dos ingressos e as malditas exigências da Fifa.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Dinheiro jogado no lixo ou com lixo

Conforme a Folha de São Paulo, o congressista brasileiro é o segundo mais caro em um universo de 110 países, mostram dados de um estudo realizado pela ONU (Organização das Nações Unidas) em parceria com a UIP (União Interparlamentar).

O custo brasileiro supera o de 108 países e só é menor que o dos congressistas dos Estados Unidos, cujo valor é de US$ 9,6 milhões anuais.

Com os dados extraídos do estudo da ONU e da UIP, a Folha dividiu o orçamento anual dos congressos pelo número de representantes -- no caso de países bicamerais, como o Brasil e os EUA, os dados das duas Casas foram somados. O resultado não corresponde, portanto, apenas aos salários e benefícios recebidos pelos parlamentares.

Mas as verbas a que cada congressista tem direito equivalem a boa parte do total. No Brasil, por exemplo, salários, auxílios e recursos para o exercício do mandato de um deputado representam 22% do orçamento da Câmara.

Entre outros benefícios, deputados brasileiros recebem uma verba de R$ 78 mil para contratar até 25 assessores. Na França --que aparece em 17º lugar no ranking dos congressistas mais caros-- os deputados têm R$ 25 mil para pagar salários de no máximo cinco auxiliares.

Assessores da presidência da Câmara ponderam que a Constituição brasileira é recente, o que exige uma produção maior dos congressistas e faz com que eles se reúnam mais vezes --na Bélgica, por exemplo, os deputados só têm 13 sessões por ano no plenário. No Brasil, a Câmara tem três sessões deliberativas por semana.

No total, as despesas do Congresso para 2013 representam 0,46% de todos os gastos previstos pela União. O percentual é próximo à média mundial, de 0,49%.

Em outra comparação, que leva em conta a divisão do orçamento do Congresso por habitante, o Brasil é o 21º no ranking, com um custo de cerca de US$ 22 por brasileiro. O líder nesse quesito é Andorra, cujo parlamento custa US$ 219 por habitante.

O estudo foi publicado em 2012, com dados de 2011. O Brasil não consta no documento final porque o Senado atrasou o envio dos dados, que foram padronizados nos modelos do relatório e repassados à Folha pela UIP.

Ao todo, a organização recebeu informações de 110 dos 190 países que têm congresso. Alguns Estados com parlamentos numerosos, como a Itália, não enviaram dados.

E o retorno de todo esse “investimento” é muito aquém do desejado pela população brasileira. Além de mau funcionamento da máquina pública, os políticos brasileiros são mais preocupados com o seu próprio bolso do que com o bem público. Casos de enriquecimento ilícito brotam em todas as esferas enquanto nós, meros mortais, assistimos a tudo incrédulos e impotentes. Por que a nossa única arma, o voto, é munição de festim já que os partidos políticos e seus membros deixam muito a desejar nos deixando sem opção.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Números que assustam




O blog volta depois de um período sabático (não é só o mestre Guardiola que merece descanso) e primeiro assunto são as finanças do Grêmio. Os números já foram mais assustadores, mais ainda faz o negô véio aqui tremer com medo dos anos que viram pela frente. Conforme dados de 2011, o Grêmio tem índice 64, ou seja, 64% da receita anual é comprometida com dívidas – esta soma já representou cerca de 75%.

Porém, a sangria no cofre tricolor tende a aumentar. Negócios arriscados (construção da Arena mais investimento pesado em jogadores médios), pouca receita em venda de jogadores e ações de marketing do tempo da Idade Média empacam as receitas – o aumento significativo veio da TV e só, a grana do quadro social aumentou em função da elevação das mensalidades – e alavancam as despesas.

Conforme o presidente Fábio Koff, o Grêmio necessita anualmente depositar 20 milhões na abastada conta bancária da construtora “parceira”. Seria necessário vender dois jogadores por ano (estudos mostram que um clube de futebol necessita sempre negociar um atleta por temporada para equilibrar as contas) para ficar no azul. Mas o tricolor não consegue vender nenhum faz tempo, quanto mais dois.

O último foi o Mário Fernandes no início de 2012, 50% do passe era nosso, e quando negocia entrega quase de graça. Olhem o caso do Biteco. Até aqui, um dos poucos motivos para nos alegrar em 2013. Mas o meia já têm os dias contados no Olímpico, quer dizer Arena. Ele foi vendido (doado) por 3 milhões de euros para um grupo de investidores. Ou seja, estamos de mãos atadas. O guri só não foi antes para a Alemanha por que, incrivelmente, não passou nos testes do Hoffenheim – isso só corrobora com o fato do clube estar na zona de degola da Bundesliga.

Falando em investidores. Não foi com a grana deles que o Grêmio trouxe o Marcelo Moreno? Acho que nos passaram mais um engodo, especialidade da antiga direção, pois várias fontes citam o Grêmio como devedor de parcelas do passe do atacante para o Shaktar. Façam como o Flamengo, devolvam o cara e ponto final. E matem no peito o prejuízo que por enquanto não é tão grande. Com os 20 milhões de reais “investidos” no boliviano os denominados "dirigentes amadores” montariam um time de futebol.

Outra coisa que me apavora é a nossa provável folha salarial. Deve ser a maior do país. Só neste ano 45 jogadores entraram em campo vestindo a camiseta tricolor. Muitos garotos da base, mas a maioria com ganhos bem significativos, alguns acima de 500 mil reais.

O Grêmio precisa do seu torcedor, mas também necessita pensar com mais cautela as suas finanças. Afinal as receitas extras relacionadas a Arena são ligadas diretamente ao dia do jogo (mais ou menos a mesma coisa que acontecia no Olímpico) ou alguém acha que vai ter um show por mês no local. É só ver quantos espetáculos ocorreram em estádios da capital em 2012.

Por ora é torcer para o time em campo e dar as boas-vindas novamente a nossa eterna casa o Estádio Olímpico. Deixem o teatro recebendo os reparos. Até lá, Olímpico neles. Com gramado decente, com torcida pulsando de pé, sem cadeiras, com avalanche e, principalmente, com alma.