terça-feira, 26 de novembro de 2013

Pelo fim da Taça RS

É triste, mas a primeira decisão da nova diretoria da Federação Gaúcha de Futebol de Mesa será convocar um debate sobre a extinção da Taça RS.

No liso ela não empolga e no cavado atingiu o fundo do poço com a participação de apenas nove entidades da FGFM no torneio de 2013.

Apesar da sua importância histórica inquestionável, o torneio, nas duas modalidades, ficou na rabeira de um oneroso e extenso calendário. Sem falar na questão da arbitragem. Cada vez mais um empecilho para mais associações participarem.

Somos em 20 federados no GS e foi um parto conseguir três para jogar o tradicional torneio. Ou se muda a disputa da competição (a associação que sediar garante a arbitragem) ou penso que o torneio que possui só foras de série em sua lista de campeões ruma para um final vexatório.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Apoio incondicional


Na era dos mega eventos batendo a porta da pátria amada Brasil, só se falam em cifras astronômicas. Dinheiro despejado nas Arenas modernas para torcedores cheios da grana e mais preocupados com o cachorro quente do que com os escanteios a favor do seu clube.

Os grandes clubes do país aumentaram suas receitas graças ao dinheiro global, entretanto em vez de pagar as contas e racionalizar o mundo da bola saíram gastando sem parar aumentando os valores de mercado, atingido patamares quase iguais aos do primeiro escalão europeu - o Velho Continente, aliás, assiste clubes emergirem com finanças turbinadas com as fortunas de “mecenas” menos preocupados com a arte e mais com a limpeza das suas incontáveis moedinhas da sorte.

No meio desta não tão nova ordem mundial, clubes tradicionais do Brasil e Exterior perdem força. Regiões são extintas do mapa do futebol. Mas uma coisa sobrevive desde que a primeira bola foi chutada numa escola para jovens aristocratas em algum lugar da Inglaterra: a paixão do torcedor. Não o novo torcedor e sua camiseta da moda, nos referimos ao velho torcedor e seu amor sem limites.

A dor, conforme uma das definições do dicionário, é uma sensação emocional ou psicológica que causa sofrimento. Não é segredo que as artes se alimentam da dor. O genial Lupicínio Rodrigues a musicou. Álvares de Azevedo a transformou em lirismo poético. O mexicano Alejandro González Iñárritu fez dela sua inspiração para contar histórias deliciosas no cinema.

No esporte, entretanto, a palavra é ligada a derrota, ao fracasso. Mas assim como nas artes ela é essencial para apaixonar. O torcedor forjado no insucesso é mais fiel, mais fanático.

O caso clássico é o do time de futebol Corinthians que ficou durante quase 23 anos (1954-1977) sem vencer o Campeonato Paulista e viu neste período sua torcida aumentar de tamanho. Motivos que levaram a incorporar o apelido de fiel.

Não temos a pretensão de tentar descobrir o motivo deste fenômeno. Vamos no ater a contar histórias de outros clubes que mesmo na hora da dificuldade tiveram o apoio dos torcedores. E comprovaram que fiel não é o torcedor do Corinthians e sim o verdadeiro apaixonado por uma equipe seja qual esporte for. Como os casos no futebol são mais conhecidos, a maioria dos exemplos vão ser dedicados ao esporte mais popular da Terra.

Vamos conhecer a história de times gigantescos que colecionaram anos de fila ou mergulharam na segunda divisão. Equipes tradicionais que desapareceram por motivos financeiros e ressurgiram nos braços da sua torcida. Clubes pobres, mas populares que lutam diariamente por ocupar um espaço que já foi seu. O fanatismo sem limite dos hermanos.

Como isso não é uma história só de momentos felizes, vamos reservar espaço para a dor perene. Clubes tradicionais que amargam anos de desesperança. Fãs de equipes pequenas e sua eterna ligação com o fracasso. Um decréscimo diário na história e no número de aficionados nas arquibancadas.

Para iniciar um capítulo inteiro dedicado a um dos torcedores mais sofrido do mundo da bola: os colchoneiros.

Atlético de Madrid: uma história à sombra do rival

A cabeçada firme do zagueiro Miranda acabou com um pesadelo que já durava quase uma década e meia. O gol do brasileiro, marcado aos oito minutos do primeiro tempo da prorrogação, foi o do título da Copa do Rei. A vitória de 2x1 do Atlético de Madrid sobre o Real Madrid marcou o fim de um dos maiores tabuas do futebol mundial. Os Colchoneros venceram os Blancos depois de 14 anos sem um único triunfo.

Quando se pensa em futebol na cidade de Madrid vem um nome a cabeça: Real Madrid. Os merengues são um fenômeno de massa. Seus esquadrões ao longo dos tempos encantaram gerações e conquistaram milhares de fãs ao redor do mundo. Gigante, possui nove títulos da Copa dos Campeões da Europa, sendo o maior vencedor do torneio. Na Espanha divide seu reinado como o Barcelona, este visto por seus torcedores como o maior rival.

Em Madrid, ironicamente, ou quem sabe poeticamente, na rua Paseo de Los Melancólicos situa-se o estádio Vicente Calderon, lar do Atlético de Madrid, o segundo time mais importante da cidade. Seus torcedores são fanáticos a fazem do sofrimento um combustível para suportar as agruras ao longo dos anos de derrotas e triunfos do rival - o time incorporou tanto o fracasso a sua personalidade que as peças publicitárias do clube sempre fazem referência a senda de derrotas.

A palavra rival, aqui, só vale para os colchoneros. Os merengues desprezam o vizinho, tamanha a diferença histórica de conquistas entre os dois. A diferença se acentuou nos últimos anos, apesar do Atlético de ter vencido duas vezes na atual década a Liga Europa, o time passou longe de incomodar o rival no campeonato espanhol.

Em 2013 o clube quebrou um jejum de amargos 14 anos sem vencer o Real Madrid. A escrita foi quebrada justamente com um o título da Copa do Rei na casa do rival. Para os torcedores dos merengues essa derrota pode não significar nada, mas para os colchoneros foi a redenção de um inferno que parecia sem data para acabar.

A vitória de 2x1 foi comemorada durante toda a madrugada por seus fãs. Apesar de ter passado pela segunda divisão no início dos anos 2000, os torcedores nunca abandonaram o Atlético. Seu estádio, com capacidade para aproximadamente 55 mil torcedores, está sempre lotado.

Na história do Atlético, os episódios de insucessos podem ser maiores que os de vitórias. Mas o fanatismo de sua torcida está entre as maiores do mundo, fazendo os seus seguidores serem a maior glória do clube.
Se o dramaturgo Nelson Rodrigues fosse vivo escreveria mais ou menos assim sobre esta vitória redentora do Atlético de Madri: “Hoje os perdedores se sentirem menos perdedores, os idiotas menos idiotas, o marido que não pia em casa cresceu a crista e gritou com a mulher por vinte e quatro horas”.

A vida pelo futebol

A paixão dos argentinos pelo futebol poderia ser contada em um tango. Não existe povo mais passional quando o assunto é bola rolando. São muitos os casos de amor ao esporte, muitas vezes até levados às últimas consequências. Exageros que perdem o sentido e derivam em tragédias. Recentemente dois casos chamaram a atenção devido ao fanatismo conferido a um clube.
Em 2010, o Rosário Central foi rebaixado à segunda divisão nacional. Um de seus torcedores Juan Pablo Dandreta suicidou-se logo após a partida crucial por não suportar a dor do descenso. Outro episódio semelhante ocorreu um ano depois. Daniel Bramajo tirou a vida após a queda de divisão do seu amado River Plate.

Exemplo que vem de Avellaneda

Na virada da década de 1990 para os anos 2000, a Argentina vivia momentos de extrema crise econômica. Situação semelhante vivia o Racing Club de Avellaneda, que no ano de 1999 decretou falência. Ironicamente, a “Academia”, como é chamado o clube, veste as mesmas cores do uniforme da equipe nacional (a história conta que a camisa da seleção argentina de futebol foi inspirada no uniforme racinguista). A quebra do Racing pode ser considerada uma analogia a situação econômica vivida na época.

E assim como os argentinos saíram às ruas para protestar, mais de um milhão de torcedores do Racing invadiram a cidade para apoiar e recuperar o seu clube de coração. Assim, tornando-se a primeira administração futebolística na argentina por uma empresa, a Blanquiceleste S.A. O grande momento de superação desta crise foi na campanha do Campeonato Apertura de 2001, quando o clube sagrou-se campeão após 35 anos sem troféus nacionais. Neste mesmo ano, os argentinos destituíram Fernando de La Rua do cargo de presidente da nação.

Na Itália, Napoli e Fiorentina, hoje disputando a série A do Cálcio, enfrentaram a falência também e renasceram das cinzas graças aos seus torcedores.

O Rangers, da Escócia, é a nova vítima da má administração. Maior vencedor do país – são 54 Campeonatos Escoceses-, foi rebaixado a quarta divisão (última) após decretar concordata em 2012. O time de origem protestante já galgou o primeiro degrau, venceu sem sustos o primeiro desafio, mas ainda vai demorar, no mínimo, dois anos para chegar ao nível dos melhores. A boa notícia para o lado azul de Glasgow é que o Ibrox Stadium, campo do clube, segue lotando com mais de 50 mil torcedores por partida.

Schalke 04: um gigante feito pela torcida

O Schalke 04, da Alemanha, contava com a maior torcida do país, quando recentemente foi ultrapassado por Bayer de Munique e Borussia Dortmund. Mas o que chama atenção é a “seca” de títulos da equipe. O último título nacional foi nos tempos de Alemanha Ocidental, em 1958.

Seus fãs ultimamente “contentam-se” com um histórico de vitórias em títulos de menor expressão, como a Copa da Alemanha, onde seus últimos títulos foram em 2001, 2002 e 2011, a Supercopa da Alemanha de 2011, e a Copa da UEFA em 1997 (à época o terceiro torneio em importância na Europa). Sua média de público na Bundesliga é de 60 mil torcedores.
O clube conta com mais de 90 mil sócios. O Schalke tem uma histórica ligação com os trabalhadores das minas de Gelsenkirchen. Este um dos motivos da alta aceitação na cidade em que a mineração foi peça fundamental no desenvolvimento econômico da cidade.


A adversidade que faz a paixão

Nos anos 90, o Grêmio viveu grandes momentos no esporte, onde foi campeão da Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro e Copa Libertadores. Para os torcedores do Internacional esta década foi levada como um pesadelo que parecia não ter fim. Mas ao mesmo tempo, a média de torcedores colorados no estádio durante a década foi superior aos gremistas.

Com a chegada dos anos 2000 o inferno astral passou para o lado azul de Porto Alegre. Quando estes foram testemunhas dos maiores momentos do clube, com a conquista da América e do Mundo em 2006.

Em 2005, o Grêmio jogou na Série B do Campeonato Brasileiro. Nesta mesma época o fanatismo dos tricolores aumentou significativamente, e assim como nos anos 1990, a maior média de público em Porto Alegre foi maior do lado daqueles que pouco tinham a comemorar.

No Brasil os maiores públicos entre as quatro divisões do Campeonato Brasileiro de 2011 se deu na Série D, a última divisão nacional. O Santa Cruz de Recife conseguiu uma média de 36 mil torcedores por partida. O Campeonato Paraense, que conta com pouca expressão nacional, obteve o terceiro maior número de torcedores em 2013. Onde esteve a frente do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Tudo isso deve-se ao fato de duas equipes: Remo e Paysandu.

O Paysandu atualmente está na Série B, mas perdurou por alguns anos entres as duas últimas divisões nacionais. Já o Remo, atualmente encontra-se sem divisão, por não conseguir classificar-se para a disputa da Série D de 2013. As duas equipes paraenses usam a torcida como seu grande trunfo, esta talvez seja a grande razão para o Clube do Remo ainda não decretar o seu fim.


Região Sul do Estado: fanatismo a toda prova

O magistrado Aldyr Rosenthal Schlee tem o futebol e o Brasil de Pelotas no sangue - ele é filho do escritor e jornalista Aldyr Garcia Schlee, criador, em 1953, do uniforme verde e amarelo da seleção brasileira de futebol.
Aos 53 anos, o magistrado orgulha-se de ir em quase todos os jogos, sempre ao lado da filha de 13 anos, do Xavante no estádio Bento Freitas.

“Quantas vezes na vida, ao me perguntarem para que time torço, respondi: sou Brasil. Claro que minha resposta sempre ensejou uma pergunta complementar: “Tá, mas tu és Grêmio ou Inter?”.Aí é que está: sou Brasil! Sou Xavante desde criancinha. Só Xavante! Futebol é paixão, afinal das contas. Por isso não consigo compreender como se pode dividir essa paixão torcendo por mais de um clube. Como Xavante, sou Xavante contra todos. Como Xavante, torço – por obrigação de ofício – especialmente contra o Pelotas (ancestral adversário), mas também contra os times da Capital (vampiros do futebol do interior), os da Serra, os de Rio Grande, os de Bagé... e os paulistas, e os cariocas, e os da Alemanha, os da Mongólia. O Barcelona que se dane (ai dele que venha aqui no Bento Freitas!). Por isso, para mim, qualquer jogo contra o União Frederiquense é final de Champions League, é o jogo da ‘nossa’ vida. Quem viu Ênio Fontana jogar com a número 9 sabe do que estou falando. Quem ouviu a Garra Xavante comandar nossa ‘massa’ entende isso. Quem quase morreu junto com o Milar (Cláudio Millar, atacante uruguaio falecido em 2009) é como eu sou”, enaltece apaixonado.

A declaração apaixonada de Aldyr carrega todo um simbolismo. O torcedor do Brasil considera-se, sem nenhuma modéstia, como o mais fanático do Planeta Terra. Primeiro campeão Gaúcho, em 1919, o Xavante já viveu dias mais gloriosos. Encastelado na segunda divisão desde 2009, quando um acidente com o ônibus do clube vitimou dois jogadores, entre eles um dos maiores ídolos do cube, o atacante Cláudio Millar e um membro da comissão técnica, o time da Região Sul do Rio Grande do Sul luta para voltar a elite.
Mesmo com repetidos insucessos, a torcida não abandona o clube. Ao contrário: a cada rodada o Bento Freitas recebe milhares de fãs. O Xavante se orgulha também de acompanhar o time em todos os jogos do clube no interior do Estado. Para um dia chegar de novo ao topo, como em 1985, quando o clube da cidade de Pelotas foi semifinalista do campeonato Brasileiro.

Amor parecido localiza-se a menos de 60 quilômetros do Bento Freitas. O estádio Aldo Dapuzzo é a casa do São Paulo, de Rio Grande. O time orgulha-se de possuir uma torcida tão ou mais apaixonada que a do Brasil. Seus jogos na segunda divisão estadual são acompanhados por quase 10 mil pessoas. Média inferior somente a dupla Grenal.

O São Paulo também tem um título Gaúcho. Ganhou o campeonato de 1933. De volta a primeira divisão, o clube mira voos mais altos. Liberar setores interditados do estádio e voltar a disputar uma competição nacional. Quem sabe repetir o maior público do Aldo Dapuzzo registrado no jogo contra o Flamengo, em 1980: 19.021. Se depender do apoio da torcida, o Leão da Linha do Parque vai voltar a rugir em alto e bom som!!



Sem apoio incondicional

O que tem em comum os cariocas América e Bangu, o goiano Goiânia e o time baiano do Galícia? Foram times respeitados regionalmente e até nacionalmente. Suas galerias de títulos não eram as mais fartas, mas estavam sempre lá brigando pelas primeiras posições nos campeonatos estaduais. Porém isso faz tempo, muito tempo.

Suas torcidas diminuíram com o passar dos anos, mas os que sobraram sonham com dias melhores. Dias em que essas camisetas serão novamente respeitadas e seus fãs vão encher novamente estádios como nas décadas passadas.


Segundo time de todo o carioca

No documentário Paixão Rubra, realizado em 2006 pelo diretor Marcelo Migliaccio, um dos personagens solta uma frase com a propriedade de quem dedica seu amor para um equipe decadente: “Torcer para o Flamengo é muita falta de imaginação, quero ver é torcer para o América”.

O filme possui 42 minutos e faz uma bonita homenagem ao torcedor americano. A película analisa a razão do torcedor que prescinde de conquistas. Os mais velhos lembram de antigos ídolos, como Alarcon, Canário ou o goleiro Pompéia. Os jovens falam de Robert, do time que chegou à final da Taça Guanabara em 2006.

Uma das passagens mais marcantes mostra um rapaz de, no máximo, 40 anos, ao lado dos pais, idosos, vendo um jogo do América na segunda divisão carioca em 2004. Lá pelas tantas, o torcedor começa a lançar impropérios contra os jogadores e a “podridão” do time. Visivelmente contrariada com o número de palavrões do filho, a senhora pede que ele se controle pois está sendo gravado. Aí vem toda a ira de um torcedor apaixonado: do nada, ele começa a xingar a mãe e o pai, os responsáveis, segundo ele, por sua dor eterna ao ter adotado o América e não um outro clube do Rio.

A torcida mostra um realismo na tela. Sabe que tem algo de franciscano torcer para um time com diminutos recursos financeiros, mas que um dia desafiou os grandes e, por muitos foi considerado do mesmo nível de Fluminense, Flameno, Vasco e Botafogo. Como
Neste tempo de esporte mercantilizado, e que cada vez mais perde a graça diante de tantos interesses econômicos, torcer por um time como o América é amar o futebol em estado puro. O time tem um passado do qual se orgulhar. Sua torcida já dividiu o Maracanã como na final do campeonato carioca de 1960 contra o Fluminense. Este conquista foi a última do Mecão que ostenta ao todo sete títulos cariocas, cinco deles na era profissional.


O time da fábrica

A história do Bangu Atlético Clube começa realmente em fins do século XIX. Dentro da Fábrica Bangu, técnicos ingleses, recém chegados, falaram do futebol.

Ao iniciar o século XX, já se praticava o futebol em Bangu, em uma área cedida pela Companhia Progresso Industrial do Brasil e que seria, como foi, um campo provisório, localizado bem ao lado direito das salas de trabalho então existentes.

Em 1933, o Bangu era um time temido. Foi o primeiro campeão carioca da era profissional. Repetiria a conquista em 1966. Em 1950, o time mais famoso do subúrbio carioca contratou , junto ao Flamengo, o principal jogador brasileiro da época: Zizinho. Algo inimaginável nos dias de hoje.

Marcelo Caju é militar da aeronáutica. Torcedor fanático do Flamengo, o carioca radicado em Porto Alegre nasceu no bairro de Bangu. Quando criança e adolescente frequentou o estádio de Moça Bonita. “Ainda era no tempo do Castor (o bicheiro Castor de Andrade era o patrono do Bangu Atlético Clube) e ele dava ingresso de graça pra molecada, mas avisava: só quero aqui torcedor do Bangu de verdade. A gente mentia e entrava, mas era uma mentirinha pequena, pois o Bangu era o segundo time de toda mundo ali no bairro”, lembra.

Entretanto, o Bangu ainda é o primeiro time de vários torcedores. Na série “Hei de Torcer”, da produzido e veiculado pala ESPN Brasil retratava os considerados pequenos clubes da capital carioca, colocando o time dono do estádio Moça Bonita no mesmo nível de Bonsucesso, Madureira, São Cristóvão e Portuguesa, da Ilha do Governador. No filme, o aposentado Vicente Alves enaltece: “Tudo que eu vejo do Bangu, se eu posso, eu compro, mas o importante é ser banguense e não é possuir produtos”. Invertendo a lógica comercial que impera no futebol, onde o ter é mais importante que o ser.

Vicente lembra com saudades dos times do Bangu nos anos oitenta. “Jogou muito craque aqui como o Mauro Galvão. No auge e não na decadência”, ressalta. Ele estava no Maracanã no dia 31 de julho de 1985. Mais de noventa mil pessoas assistiram o empate final do campeonato brasileiro daquele ano. O Bangu empatou em 1x1 com o Coritiba e perdeu nas penalidades. Nos dias atuais, Moça Bonita registra um público de no máximo quinhentos pagantes.

A dona de casa Anéia Alves, também no documentário, retrata a esperança de um torcedor de um atual pequeno: “Torcer pra gente empatar. Se der sorte a gente ganha...quem sabe 2x1”.

Era uma vez um o maior campeão de Goiás

No ano de 1974, o Goiânia Esporte Clube era o bicho papão do campeonato Goiano. Era 14 conquistas contra sete do Atlético, cinco do Vila Nova e três do Goiás Esporte Clube. Hoje, na segunda divisão estadual, os torcedores do Galo, além de nunca mais comemoraram um título, viram seus antigos fregueses crescerem no cenário regional e até nacional.

O emergente Goiás já ostenta 24 títulos estaduais, o Vila Nova 15 e o Atlético 12. A hoje reduzida torcida do Goiânia credita o longo jejum a construção do principal estádio da capital. O Galo foi o último campeão quando o torneio era disputado no Estádio Olímpico Pedro Ludovico Teixeira, depois que o Estádio Serra Dourada foi inaugurado, em 1975, o Goiânia não ganhou mais nenhum Campeonato Goiano.

Desde 2007 na segundona – este ano corre sério risco de cair para terceira e última divisão do campeonato goiano - , o time tem que jogar na cidade vizinha de Inhumas, 4º local diferente em que o Goiânia manda os seus jogos nas últimas quatro edições da competição, pois seu estádio original, o Estádio Olímpico Pedro Ludovico Teixeira foi demolido em 2003 ( ainda era o único time da capital que jogava regularmente no local) com a promessa da construção de um novo com capacidade para 25 mil pessoas.
E com tantas desgraças, o torcedor abandonou as arquibancadas. A média de público do time é de 188 torcedores por partida. Bem diferente dos milhares que empurravam o Galo a mais um título regional nos anos 50, 60 e 70.

Galícia?

Os mais novos conectados no mundo do futebol globalizado sabem de cor a escalação do Chelsea, do Milan, do Barcelona. Falam do Real Madrid com tanta propriedade quanto um vizinho do estádio Santiago Bernabéu. Mas será que algum dele já ouviu falar no Galícia? Talvez eles apontem a região na Espanha, terra do La Coruna, mas falamos de outro Galícia: o primeiro tricampeão baiano. Figurinha carimbada nos gols do Fantástico nos anos 70 e 80.

O Galícia Esporte Clube foi fundado em 1 º de janeiro de 1933 por imigrantes espanhóis provenientes da região da Galícia. O time de Salvador esteve no topo do futebol da Bahia durante sua primeira década de vida: campeão em 1937, sagrou-se o primeiro tricampeão baiano nos anos de 1941, 1942 e 1943, além de conquistar os vice-campeonatos de 1935, 1936, 1938, 1939 e 1940. Voltou a ser campeão baiano em 1968, obtendo ainda quatro vice-campeonatos em 1967, 1980, 1982 e 1995.

Rebaixado para a Segunda Divisão do Campeonato Baiano em 1999, e após tentar, sem sucesso, retornar à Primeira Divisão nas duas temporadas seguintes, o clube licenciou-se de competições profissionais em 2002 e passou a disputar o campeonato Baiano somente nas categorias de base. Em 2006, voltou a participar do torneio profissional, após quatro temporadas licenciado.

O estádio Parque Santiago, casa do Galícia (o time joga também na Arena Pituaçu), com capacidade para oito mil torcedores recebe, no máximo, 150 testemunhas por partida em 2013. O número é muito inferior aos mais de cinco mil apaixonados que apoiaram o time na final do campeonato baiano da segunda divisão, em 2007. O amor ainda existe, basta ser mais correspondido e a nova geração vai voltar a ver os gols do tradicional Galícia no Fantástico.

Região da Campanha do RS: economia e futebol vivem do passado

No começo do Século 20, boa parte da economia do Rio Grande do Sul concentrava-se na região fronteiriça ao Uruguai. Eram os tempos em que a agropecuária era a principal fonte de renda do Estado, e cidades como Bagé e Santana do Livramento viviam seus tempos de riqueza. Nestes mesmos anos o futebol da Campanha era um dos mais fortes no Campeonato Gaúcho. Da região saíram grandes times como o Armour, Grêmio Santanense e 14 de Julho, que representavam Santana do Livramento. O Grêmio Santanense chegou a ser campeão estadual no ano de 1937. Nos tempos atuais, apenas o 14 de Julho ainda está em atividade profissional.

Bagé talvez tenha os exemplos mais fatídicos desta época de ouro. A cidade conta com três títulos do Campeonato Gaúcho, os quais conquistados com o Guarany (só perde em conquistas de regional para a dupla Grenal) duas vezes e o Grêmio Bagé, uma.

Além dos dois títulos (1920 e 1938), o Guarany foi por três vezes vice-campeão gaúcho, já o Grêmio Bagé chegou a outras cinco finais, além do título de 1925. Hoje em dia as duas equipes encontram-se na terceira divisão do Rio Grande do Sul. Mas a memória e a paixão dos seus torcedores ainda residem nas suas pobres estruturas, e fazem disso uma resistência ao fim das suas atividades.

Por isso gostamos dessa loucura chamada futebol

Buscamos mostrar com estas historietas algumas justificativas que fazem do futebol uma cultura consolidada no mundo, digna de estudos antropológicos. Muitas vezes este esporte pode ser contado como uma analogia da nossa sociedade. Torcedores são cidadãos, explorados pela cultura capitalista dentro e fora dos gramados, clubes são o espelho de uma sociedade oprimida pelo capital, onde a economia funciona como uma gangorra, alternando nossas vidas de uma extremidade a outra.

Mas como dito anteriormente, nós os entusiastas, somos personagens da vida, e sabemos a dificuldade em vivermos nesta sociedade que a cada dia vem tornando-se uma confusão esquizofrênica na busca do seu espaço tornar-se cada vez melhor.

Diante das dificuldades do cotidiano, a maioria das pessoas sempre buscam a melhor maneira de driblar a adversidades, pois a desistência do viver é negada por nossa maioria. O futebol pode ser considerado um refúgio, o escape que buscamos ironicamente tornou-se um reflexo do nosso coletivo. E se não desistimos da vida, por que desistir de nossas equipes do coração? A delícia da nossa existência é a mesma que nos faz torcedores: nos tornamos mais fortes a cada obstáculo ultrapassado, a cada queda que nos obrigamos a levantar e conquistar nossos objetivos. Isso é o Ser Humano, isso é o futebol.

E gostaríamos de concluir este capítulo com um trecho do livro “Futebol ao Sol e à Sombra”, do genial Eduardo Galeano, que faz jus ao trabalho aqui apresentado:
“Por mais que os tecnocratas o programem até o mínimo detalhe, por muito que os poderosos o manipulem, o futebol continua querendo ser a arte do imprevisto. De onde menos se espera salta o impossível, o anão dá uma lição ao gigante, e o negro mirrado e cambaio faz de bobo o atleta esculpido na Grécia”.