quarta-feira, 22 de maio de 2013

Felicidade foi se embora...

Ontem, fomos tomar umas cevas no bar Brechó do Futebol. Na caravana do trago estava eu e três colegas de pós-graduação, o Rodrigo, o Flávio e o Eduardo. O assunto girou em torno da eliminação do Grêmio na Libertadores. Antes disso, no entanto, um dos guris, já na casa dos 30 anos, falou que queria sair de casa – ele mora com a mãe e o irmão. A informação veio acrescida de outra informação do tipo não estou mais na idade de morar com a minha mãe.

Não questiono o que ele disse. Talvez tenha apenas usado um lugar comum para resumir um sentimento extremamente complexo e com argumentos mais plausíveis. Talvez agora, meus queridos dois leitores, você esteja se perguntado: “Mais plausível do que uma pessoa na casa dos 30 anos morar com a mãe? Isso é um absurdo”. Sinceramente, não acho.

Hoje o mundo luta com vigor na defesa dos direitos individuais. Finalmente, duas pessoas do mesmo sexo podem constituir união estável. Usei este exemplo para comemorar o nosso avanço como sociedade. É inconcebível castrar um desejo de alguém motivado apenas por sua orientação sexual.

Entretanto, na contramão deste movimento estamos criando uma ditadura da felicidade, do bem-estar ou da qualidade de vida. Outdoors espalhados na cidade te “ensinam” que qualidade de vida é morar em um condomínio fechado com N opções de lazer. Segurança aliada a um convívio harmonioso com a natureza.

Ter um carro, de preferência do ano, é sinônimo de sucesso profissional. Ter um apartamento num bairro bom idem. Outras identificações com uma boa colocação no mercado de trabalho é viajar, frequentar os chamados bons restaurantes ou bares, que podem ser tanto ou da moda ou os da galera alternativa, comprar tudo o que deseja numa loja e por aí vai.

Quem não se enquadra nessa descrição é taxado de perdedor. Pouco importa se o sujeito adora andar de bicicleta ou a pé, se vê no transporte público a solução para os engarrafamentos da cidade. Ele precisa ter um carro! O carro significa liberdade também. É o ir e vir a qualquer momento para qualquer lugar. Sair a pé de uma festa na noite ou pegar a sua bicicleta presa a um poste ou árvore é uma atitude derrotista.

Morar com os pais a uma certa altura da vida também. Coisa de loser. Vai o cara ou a garota tentar explicar que gosta de morar com a família mesmo ultrapassando a casa dos 30, 40 ou 50 anos. “Mentira, é só uma desculpa para o fato de não ter grana pra morar sozinho”. A sentença é cruel.

Hoje em dia 75% do papo dos meus amigos se restringem a viagens. É legal claro compartilhar experiências, mas na boa: encheu o saco. Eu até evito sair às vezes pq o papo sempre acaba se resumindo a isso (depois das férias então nem se fala). É quase uma competição velada. Quem não tem grana pra visitar todos os lugares acaba, inconscientemente ou bem conscientemente, se sentindo menor. Ainda mais que fotos de viagens são o primeiro impacto nas mídias sociais para ver se aquela pessoa vale a pena no caso de um interesse de uma relação.

Muitas destas portas são abertas em função da sua aparência estética, da sua inteligência acima da média ou fruto da sua performance esportiva ou criatividade cultural.

Se você não se enquadra em nenhum dos exemplos acima: sinto muito. A felicidade deve ter ser negada. É o famoso tá rindo do quê? Namora uma pessoa feia, não tem grana pra nada e ainda é feliz. Aí vem o tradicional: “As pessoas ignorantes são mais felizes. Elas não sabem o que não estão aproveitando no mundo”.

Felicidade deixou de ser algo abstrato. Virou um conceito. Fulano é muito feliz, pois tem um super apê, um puta carro e viaja o mudo inteiro, pratica esportes radicais. Claro que dinheiro ou domínio intelectual e cultural são geradores de felicidade, mas tantas outras coisas geram felicidade, independente do seu valor social.

O dia mais feliz da minha vida foi quando finalmente eu esporrei. Ver aquela gota de sêmen cair no chão do banheiro do apartamento dos meus pais foi a melhor sensação do mundo. Eu tinha de doze pra treze anos e o máximo de sucesso até ali na masturbação tinha sido a cabeça do pau (desculpem o termo britânico) ficar com um líquido branco, mas sem ejaculação. Todo o menino passou por isso e duvido que alguém tenha esquecido deste momento. A primeira transa então nem se fala.

Raramente, o melhor sexo é com a pessoa mais bonita que você transou. Existe um mundo repleto de bem-estar longe, mas bem longe das convenções sociais. Uma mulher não precisa ter filhos para se sentir completa. Um homem não precisa ser o provedor da casa para ser alguém. Um adolescente é bem mais que uma roupa ou a carteira dos seus pais. O meu amigo não precisa sair de casa para ser uma cara legal, aprazível e que eu gasto tranquilamente horas a bater um bom papo num bar.

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