terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Mad Max


Max era o queridinho das mulheres desde o colégio. Gabava-se de nunca ter feito um trabalho de História na vida: “sempre tinha uma apaixonadinha por mim que fazia”.

Loiro, olhos claros, somados a um metro e oitenta, o transformavam numa máquina mortífera espalhando orgasmo e prazeres além da compreensão no mundo feminino.

“Pedro pára de olhar esse filme e presta atenção no que eu tô te dizendo”.

Pedro era o sujeito normal que dividia apartamento com Max. Há mais de cinco anos namorava Ana, sua colega na faculdade. Adorava o amigo, apesar da temática dos assuntos entre ambos serem sempre a mesma: quantas mulheres Max almejava transar na vida.

“Tu fica aí vendo esse filme de merda e não presta atenção no que eu falo”, reclamava sem parar Max.

Pedro suspirava alto e tentava explicar pausadamente. “Cara, essa merda é Assim Caminha a Humanidade, último filme do James Dean”.

Mas Max não era de se render fácil. “Pedro, meu querido, porque te contentar em ver esse impostor que já morreu há mais de 50 anos, se eu sou o verdadeiro James Dean brasileiro. Rebelde, bonito, só me falta ser ator e morrer em um acidente de carro”.

E era Pedro quem se rendia ao carisma do amigo. “Fala, porra!!”

“Cara, é o seguinte, vou brigar amanhã com a Daniela. Namoro ela há quatro anos e isso está atrasando meus objetivos de vida. Desde adolescente sonhava transar com 174 mulheres e ainda faltam algumas para chegar a esse número. Como sou um sujeito fiel, só em resta me separar, entendeu?”

“Entendi, posso voltar ao filme agora?”, questionou o amigo do Don Juan já entediado com o assunto sempre presente nos diálogos entre os dois.

E Max brigou com Daniela e caiu no mundo. Comeu geral. Seus números aumentavam em maior proporção que caixa dois de político corrupto. O alfabeto foi e voltou. E olha que o nosso garanhão escolhia a dedos as presas. Só filé, como dizem nosso amigos obreiros.

A próxima vítima tinha nome - Solange - e sobrenome – a coroa mais gostosa da empresa. Recém separada: presa fácil.

Festa de aniversário de uma amiga em comum e deu à lógica. Solange caiu nos braços do nosso herói. Porém, botar pra dentro que é bom...nada.

A mulher, no alto da experiência dos seus 45 anos, deixou Max a chupar o dedo, ou melhor a bater punheta sem parar pensando nos seios siliconados e na bunda durinha que o passar dos anos só aperfeiçoou.

Max surtou geral. No primeiro mês até transou com uma ou outra que já vinha dando conta do recado, mas depois a fonte secou. E ele culpava Solange por isso, pelo menos é o que sempre me dizia.

“Sabe o que é, Cristian, já peguei mais de dez vezes e nada...nada. To surtando. Só penso nela direto e pior quando saio na noite não pego ninguém. Só fico bebendo e arquitetando algum encontro com ela. Muito foda”.

O não dar não tinha nada a ver com Max, dono de uma pegada famosa do Centro ao Sarandi. O problema é que a mulher possuía dois filhos adolescentes e não se permitia dormir fora de casa.

Três meses depois, o telefone toca lá em casa e só ouço uma frase do outro lado da linha: “É hoje, caralho”, comemora Max. Os filhos haviam viajado com o pai em férias e a baia estava liberada ou Leverkusen, segundo gíria bizzarreana.

Diz que a primeira gozada de Max levou sete segundos, mas foi compensada por dias e dias de sexo. A ponto da mulher pedir água - versão do Max logicamente.

Os meses se passaram e encontrei Max no Parangolé com uma moreninha estilo surfista: cor do verão e rosto angelical.

A convite de Max me sentei e falamos amenidades. Até ela ir embora. Daí o homem confessou em alto e bom som.

“Estou apaixonado. A Andréia me mostrou que esse papo de quantidade é bobagem. Insegurança masculina. Tentativa de ser o fodão, o macho alfa da manada. Cara, conheci ela uma semana depois de transar com a Solange, ou seja, minha teoria estava certa. Precisava transar com aquela mulher para os maus fluídos serem expurgados. Agora, vejo que esse papo de números é bobagem. Interessa a intensidade e o amor pela pessoa ao teu lado. Essa guria é pra sempre. Não só por ser bonita, mas é legal, extrovertida e trata bem todo mundo, além de ótima profissional (médica) e gremista. A mulher perfeita, meu amigo”. O meu amigo foi dito com lágrimas nos olhos, um pouco fruto da bebida também

Dei-lhe o meu abraço mais forte e sincero e os parabéns por ter encontrado alguém tão especial na vida.

Fiquei dois meses sem notícias suas. Até encontrá-lo numa festa da banda Roda Viva no Batmacumba. Bêbado me abraçou e me segurando pelos ombros gritava como estava feliz em me ver.

Entre gritos consegui um mínimo de sua atenção e perguntei por Andréia.

A resposta veio de forma tranquila e sem dor. “Não estamos mais juntos. Esse papo de amor não é pra mim”.

Depois, ainda segurando meu ombro esquerdo e com a mão espalmada em direção ao meu rosto disse o seguinte:

“Só faltam quinze. Só faltam quinze”.

Max é um exemplo de que homens que tem objetivo na vida são sempre mais felizes e confiantes.

Ah, parece que ele já alcançou o número desejado, mas agora quer chegar as duzentas e cinquenta.

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