domingo, 27 de fevereiro de 2011

A revolução da revolução




Ontem acho que assisti um processo de revolução silenciosa no meu bairro de coração: a Cidade baixa. Mas antes de contar essa história, vou elucidar a minha relação de afeto a esse local tão tradicional de Porto Alegre.

No final dos anos 70, minhas tias (irmãs do meu pai) vieram estudar em Porto Alegre. O apartamento ficava na Luis Afonso entre a Lima e Silva e a José do Patrocínio.

Nas minhas visitas nos anos 80, a atração era sempre uma só: ver os desenhos japoneses no SBT (Ultramen e Spectramen). Já que em Alegrete e Rio Grande (cidades onde dividi a minha infância) não pegava o canal do Silvio Santos.

Foi nesse mesmo apartamento, em 89, que assisti o James Buster Douglas vencer o Tyson. Ali morria o boxe para uma geração inteira.

Os anos 90 vieram e com ele as más notícias. Em 92, em um acidente de carro morre meu avô paterno. Era a senha para mudanças na família. Minha avó deixava Alegrete e rumava para a capital para morar no apartamento da Luis Afonso.

Três anos depois era a minha vez de vir morar na capital. E fui morar lá no cafofo dos Ferreira da Costa junto a minha vó e tia mais nova. A Cidade baixa era diferente. As ruas lotadas pertenciam a Oswaldo Aranha a Goethe.

Existiam seis bares na Lima e Silva (juro por Deus). Nicus, Esquinão (hoje hotel Máster), Quilograma, Cotiporã, Copão e o Marinho. Alguns bares na República. O Cavanhas da Perimetral. E um trailer chamado Speed, mas conhecido mais por Pereira. Nome do dono, um gremista fanático. Hoje a coqueluche do final de noite.

Ao lado da minha chegada (que tem um peso fantástico na transformação do bairro), acontece a construção da Nova Olaria. O bairro começa a mudar. O movimento aumenta lentamente. Hordas vem e vão entre a Lima e Silva a Oswaldo Aranha. Começam a surgir pequenos bares. O ato decisivo da revolução é quando um senhor judeu, o vereador Isaac Ainhorn, consegue implantar um série de normas restritivas a bares no Bom Fim. Era o fim das noitadas no bairro mítico da capital.

A Cidade Baixa explodiu e a partir daí e não parou mais. Hoje, eu não moro mais lá (me mudei em 2009), mas estou sempre dando uma banda pelas ruas que eu conheço tão bem. Seja jogando bola no Pão dos Pobres, perto da Baronesa do Gravataí, um dos berços da população negra de Porto Alegre, ou bebendo nos bares onde conheço os donos e os garçons.

Mas parece que o bairro está dando uma outra guinada na vida da capital. A festa de carnaval do tradicional bloco Maria do Bairro, na Sofia Veloso, estava lotada. Vários blocos de bares e de amigos. Tudo bem que o fato das universidades já estarem em aula contribui para esse fenômeno. Mas quem sabe um dia não teremos em Porto Alegre várias pequenas bandinhas, no melhor estilo Ipanema, a espalhar marchinhas e sambas pelas ruas centenárias da Cidade Baixa.

Nos falta o mar e as maravilhas do Rio de Janeiro, mas não nos falta alegria e disposição. Ao contrário de muito, eu não vejo o gaúcho como um povo sério. A galera aqui curte festa e muito. Quem sabe ontem não presenciei o início de outra revolução.

Um comentário:

  1. Só em ler este texto vi que era do meu colega do segundo grau (IEOA/Alegrete). Aquele que no terceiro ano articulou para que todos votassem para líder de turma em um colega, mas para surpresa dele, quase todos votaram no Cristian. E para comemorar, ele foi "arremessado" para dentro de outra turma do terceira ano que estava no meio de uma aula de inglês (se não me engano, da professora Gláucia). Grande abraço! Leandro.

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