quarta-feira, 25 de maio de 2011

Eu estava lá


Não dá, cara. Não posso. Estou sem grana. A cada negativa dos botonistas da Associação Alegretense a minha expectativa aumentava. Sem alternativas, o Clito me olhou lá no fundo treinando com alguém e perguntou: “e tu, Cristian, topa.” Eu já tinha topado meia hora antes de ele perguntar e respondi positivamente. A partir daquele momento eu me somava ao Jesus, Domingos e Fabrício na equipe de Alegrete que iria jogar o primeiro estadual em Santa Vitória do Palmar.

Eu havia chegado de Rio Grande há poucos meses e não tinha conseguido lugar para disputar a competição do primeiro semestre. Ou seja, o mundo precisou desistir para eu entrar nessa barca.

Além de ruim, eu tava destreinado, mas mesmo assim atravessamos o Estado rumo a cidade no extremo sul. No caminho uma péssima notícia: o Grêmio empatou sem gols com o Cerro Portenho, do Paraguai, e foi eliminado na primeira fase da libertadores de 1990.

Sete times compareceram ao torneio. Turno único onde os dois melhores (senão me engano) classificavam-se para a final. Se a minha memória não me trai (dificilmente ela faz isso) as equipes presentes ao campeonato éramos nós, Riograndina, COP, Pelotense, Afumepa, Santa Vitória e Sport Club Rio Grande.

Tomei goleada de tudo que foi tipo e afundei o time. Só tive dois resultados menos catastróficos: empatei com o Ronir em 0x0 e só perdi de 1x0 pro Guido. A associação Alegretense somou três empates e quatro derrotas ao longo do estadual.


Lá em Alegrete sempre rolou o ranking “quem tá a fim e tem maior poder aquisitivo vai viajar!” Motivo pelo qual eu e um grupo de pessoas fundamos o Sete de Setembro. Três ou quatro pessoas bancaram a iniciativa (entre elas o meu pai). Com todos os gastos inicias, acabamos ficando sem grana para pagar a Federação e por izsso fiquei dois anos no limbo, mesmo sendo, junto com o Diego Paines, o destaque interno da entidade que chegou a ter 20 jogadores.

O Sete teve vida curta. Só jogamos competições extra-oficiais. Cheguei a ficar entre os oito no fronteirão de 1992 ou 1993 (perdi para o Osmar da Academia). Nem uniforme tínhamos. Joguei o campeonato de calça jeans e uma camiseta do Titãs. Ganhei neste torneio de gente boa como o Rodalles e dois guris de Livramento.

Fomos obrigados a fechar. A maioria desistiu do botão. Outros (meu caso) voltaram para a Associação Alegretense. Em 1995 já morava em Porto Alegre, mas pintou a oportunidade de jogar o Estadual de Equipes em Canguçu. Fomos eu, meu pai, o Tica e o Sandro.

O Sandro era de lua. A cada dez jogos fazia um sensacional. Mas os nove ruins depunham contra ele. Entretanto na condição de presidente da AAFM, acabava indo em tudo que era torneio. O Gibran acompanhou a gente.

Eu e o Tica fomos o caminho todo tentando convecer o Sandro a dar a vaga para o Gibran, jogador casca grossa e ruim de ser batido. Mas ele nem aí e nós ainda íamos pagar o preço disso.

O Estadual reuniu treze times: Alegrete, Livramento, Santa Vitória, Afumerg, Riograndina, Afumepa, Metropolitana, Viamão, Guaíba...os outros eu não lembro.

No sorteio ficamos na chave de três. As duas partidas nossa seriam na sexta, ou seja, a gente já poderia estar fora poucas horas depois de entrar na cidade.

Ah, o Sandro (mongolão ducaraleo) esqueceu os uniformes da associação em cima da cama. A gente teve que jogar com a camiseta da federação. Ela era toda amarela e apertada pra caramba. Uma merda total. E mesmo assim, aquele filho da puta não abriu mão de jogar.

Minha raiva toda com ele é pq era um déspota e acabou com a AAFM. Sem falar que pesa muitas acusações de desvio de verba.

Bem, vamos aos jogos. Na estreia: Afumepa. Ou seja, derrota certa. Eu joguei com o Elisandro e tomei um senhor banho de bola. Porém ganhei de 2x0. Resultado que nos garantiu um ponto contra o favorito do grupo (uma vitória pra cada lado e dois empates).

Na sequência Viamão e novo empate. Eu fiquei no 1x1 contra um garoto de 13 anos (eu tinha 19) que muito tempo depois seria meu companheiro no Grêmio: o Xandinho. Eu fiz um gol contra faltando uns dez minutos e gente tava perdendo por 2x1 nos confrontos gerais, quando o Sandro fez um gol a bater no Di Leone e empatou seu jogo. Viu como eu não esculacho ele o tempo inteiro.

A Afumepa ganhou de Viamão na manhã de sábado e a gente se classificou entre os oito. Aí a sorte nos sorriu. Ficamos na chave mais fácil da segunda fase junto com Guaíba, Canguçu e Afumerg (ou seria Sport Club Rio Grande ainda).

No almoço, conversamos um tempão com o pessoal de Guaíba já antevendo, silenciosamente, o confronto decisivo para “as fotos” como diz o pessoal do Círculo Militar.

Na estreia da segunda fase o desastre. Tomamos três a zero da Afumerg. Só o meu pai empatou com o Chistian Batista. Eu perdi para o Monteiro de 1x0.

Depois vinha Canguçu. Os dois desesperados pois haviam perdido na primeira rodada. Eu ganhei meu jogo de virada – 3x1. Vencemos o confronto por dois a zero. Chegava a hora do tudo ou nada. Alegrete era uma associação fraca, apesar de ter bons jogadores. O Jesus e o Domingos têm bons resultados fora, mas o melhor de todos nós foi sempre o Tica. Pena que ele não joga mais. Tinha o dom da coisa. Então para a gente era sensacional chegar entre os quatro.

A minha aposta no confronto com Guaíba era ele. Eu sabia que podia vencer tb. Então entramos com tudo. Com um minuto de jogo Gento marca e eu faço 1x0 no Marcos. Logo em seguida o Mallet abre o placar contra o meu pai. Só que para minha surpresa e satisfação o Sandro faz um gol no Leandrinho e nos coloca em vantagem de novo.

Neste mesmo instante o Tica arma uma casinha fantástica e legal contra o Leandro. Gol certo, mas o jogador de Guaíba alega sei lá o que e o juiz cai na lábia dele marcando falta técnica. Aí faltou experiência no nosso grupo de parar os jogos até esclarecer o lance. Para piorar, o Tica toma o gol algumas jogas depois. Tudo igual de novo.

No segundo tempo, duas paradas foram decididas. Eu e o Mallet ampliamos os placares. Na mesa do meu lado direito, o Tica era só pressão em cima do Leandro. Mas foi na mesa do meu lado esquerdo que as coisas se decidiram. O Leandrinho virou para cima do Sandro (o segundo gol ele consegui bater um tiro de meta no pé do botão do cara de Guaíba).

Perdemos 3x1 e deixamos escapar a chance da premiação. Foi um dia duro, pois mesmo a nossa equipe sendo fraca quase chegou lá.

Toda vez que se avizinha o campeonato estadual eu lembro dessa história e sempre lamento o Gibran não ter jogado no lugar do Sandro...

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