terça-feira, 23 de fevereiro de 2010



Quem nasceu no interior do Rio Grande do Sul em meados da década de 50 tinha no rádio a sua fonte de informação. Os meninos que gostavam de futebol se acotevelavam próximos ao aparelho para ouvir as grandes jogadas dos craques daqueles tempos.

Mesmo lá no longínquo Alegrete, a gurizada parava para ouvir os grandes clássicos....cariocas. Eles exaltavam seu segundo clube de coração como se fosse Grêmio ou Internacional.

O Santos podia ser uma máquina, mas a gurizada gostava mesmo dos times da Cidade Maravilhosa. E a preferência era pelo Botafogo: o time dos supertimes. O clube do conterrâneo João Saldanha. O Maracanã era ali, perto da praça dos patinhos.

Provavelmente na tarde do dia nove de junho d 1968, meu pai e Carlos Kuhn, na casa dos seus 13, 14 anos, estivessem de ouvidos atentos a narração do gaúcho e botafoguense Luis Mendes.

Era a final do campeonato carioca. O Botafogo enfrentava o Vasco. Nos anos 60, o Gigante da Colina não ganhava nem par ou ímpar dos grandes do Rio (o América ainda gozava de tal posição).

O time de Gérson, Jairzinho, Rogério e com Zagallo na casamata trucidou o Vasco por sonoros 4x0. Forças díspares demais. Ninguém chegava aos pés da estrela solitária.

Só que começava a entrar em cena o letárgico anos 70. Tempos difíceis para o Fogão. O time dos supertimes começava a virar apenas o clube dos jornalistas da zona sul.

A unica grande alegria ocorreu no dia 15 de novembro de 1972. Seis a zero no Flamengo. Com a torcida gritando chega depois do sexto gol de marcado por Ferreti. Para delírio de Carlos e do meu pai, já no vigor da adolescência.

Se os anos 70 foram ruins, os 80 foram catastróficos. Na porta de entrada, mais especificamente no dia 08 de novembro de 81, a máquina rubro negra comandada por Zico devolve o placar de 72.

Era o fundo do poço para os botafoguenses. Somados a isso, o time já não ganhava o título estadual fazia mais de dez anos.

E assim o anos 80 se arrastaram com as torcidas contando parabéns a você por mais um na ano fila do glorioso.

A virada começou no dia sete de maio de 1989. Um derrota alijava o Botafogo do estadual. O adversário era o Flamengo. Zico de falta abre o placar. Carlos Alberto empata. Em um lance de sorte rubro negra e consequentemente azar alvi negro, característica maior do clube de General Severiano, Renato faz 2x1 no início do segundo tempo.

Alcindo amplia para delírio da massa rubro negra. Era o prenúncio da goleada. Logo depois, o xodó da torcida, Bebeto perde sem goleiro. Porém, uma falha de um futuro ídolo botafoguebnse começa a mudar a sorte daquele jogo. Em um recuo desastrado para o goleiro Zé Carlos, o então menino Gonçalves marca um gol contra e renasce as esperanças do glorioso.

No final do jogo, o volante Vitor empata a partida. Ponto decisivo para ficar a frente de Vasco e Flamengo e conquistar a taça Rio.

Time na final do carioca e o Flamengo como adversário. Três jogos, onde a estrela solitéria jogava por resultados iguais, fruto da melhor campanha ao longo do torneio.

Agora, eu entro na história. No Rio, meu time era o Fluminense da três cores que simbolizam tradição. Com o flu fora da disputa, minha torcida era para o Botafogo. Muito por meu pai e menos pelos milhões de torcedores que nunca tinham seu visto seu time conquistar nenhum titulo.

Lembro da placar daquela semana. Uma foto do Paulinho Cricíuma e a manchete É AGORA OU...
No outra página, uma foto do Bebeto e a manchete “ISSO NUNCA”.

Primeiro clássico 0x0. Resultado pedido a Deus pela nação alvinegra. Faltavam somente dois pontos.

O resto da história todo mundo já sabe. Maurício empurra Leonardo, da um leve toque de direita no canto e incendeia o Rio de Janeiro. Na casamata o predestinado Valdir Espinosa chora emocionado enquanto dezenas de torcedores caminham de joelhos sobre o sagrado gramado do Maraca.

Na apartamento 308 do bloco 3B, do número 445 da Av. Getúlio Vargas, em Rio Grande, um gremista de 4 costados vibra com o gol do ponteiro direito como se fosse marcado pelo maior dos atacantes tricolores.

Na esteira da vibração, comemoro muito com meu pai. Talvez ali tivesse apenas a homenagem a ele criança imaginando pelo rádio o Botafogo no Maraca. Não importa, naquele dia fomos botafoguenses fanáticos e orgulhosos pelo título.

Não tenho a mínima noção onde o Kuhn estava, mas certamente este foi um dia inesquecível pra ele tb.

Dos 12 grandes do país, o Botafogo é certamente o menor em termos de título, mas o maior em sofrimento e histórias para contar. Qual time seria campeão depois de levar seis a zero do rival, como agora na taça Guanabara de 2010. Realmente, têm coisas que só acontecem com o Botafogo.

2 comentários:

  1. Brilhante narrativa.
    Realmente o Botafogo mora no meu coração como segundo time (algumas pessoas até não entendem). Domingo foi demais (só alegria), o Fogão sendo Bi-Campeão da Taça (assisti o jogo e vibrei muito), e o Nóia liquidando "eles".
    Obrigado Cristian por me permitir voltar ao passado, o que me deixou até emocionado.
    Um abraço a ti e ao pai Ricardo, outro amigo e grande torcedor do Glorioso.
    Carlos Kuhn

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  2. Obrigado Carlos. Tb fiquei muito feliz com esses dois momentos!!

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