segunda-feira, 17 de maio de 2010



No final dos anos 90 eu participava ativamente de um grupo de constestação ao poder na PUC. Nossa chapa chamava-se Pra Sair Dessa Maré e era um amontoado de "vermelhos" com neguinho egresso do PT, PCB e PSTU. Eu era petista de carterinha. Filiado desde 94 e atuante.


Por causa disso, recebi um convite para atuar como estagiário na rádio escuta da prefeitura. O convas veio na véspera do carnavas e dai tive que declinar em favor de uma camarada meu.


Mas três meses depois, pintou outra vaga e aí não titubei. Tinha assim meu primeiro emprego. Meio cedo demais, aos 22 anos. Que meu ídolo maior Jorginho Guinle me perdoe, seja lá onde ele estiver.


Na prefeitura tive um choque de realidade. Neguinho melindrando estagiárias do segundo grau em troca de favores sexuas e afins. Ali foi o início do fim da minha relação com o PT e a política.


Trabalhei pra mais alguns candidatos ao longo da vida, mas aí só pela questão monetária mesmo. Tinha morrido o Cristian socialista e nascido o capitalista. Se bem que o Cristian socialista ainda dita as regras em 90% do meu comportamento solidário e altruísta.


Mas voltado ao ingresso a prefeitura. Foi barbada. A maioria da galera do setor era oriunda da PUC. A Patrícia, nossa chefe, era muito camarada. Até na minha casa dormiu, mas não rolou nada. Era amizade pura. Tipo a do Saul e do Gérson Viera.


Um dia que podia ser uma segunda, terça, quarta, ou seja, qualquer porra de um dia igual ao outro da semana: estava comentando sobre o grenal com a galera do trampo. Quando brinquei que no rádio deu a notícia sobre uma lesão séria no Cristian, atacante do Inter na época.


Meio segundo depois entrou na sala esbaforido o Ulisses. Jornalista vinculado ao PT e que executava a importante função de sei lá o que dentro da prefeiutura.


Ele perguntou o que eu tinha dito. Eu disse que era uma brincadeira com o pessoal. Rolou a mijada. Aquele lugar não era adequado a brincadeiras e o tom exagerado da minha voz só poderia denotar algo muito grave e por aí vai. A Patrícia veio em minha defesa. Dizendo que eu era novo ali no trampo e que naquele horário não acontecia nada de importante nas rádios.


Mas já tinha tomado A MIJADA. Aí entra em cena a característica mais marcante desse que vos escreve. Eu não sei perdoar. Me magoou uma vez, já era. Posso até te tratar bem, mas aquela cicatriz permanece lá intacta. E essa ficou num tamanho oceânico.


Dois anos depois, já formado, fazia parte da equipe da campanha do Tarso à prefeito. Trabalhava com mais quinze jornalistas no submundo da campanha. O Ulisses tava na linha de frente. Porém, descobri que uma das gurias que trabalhava comigo estava saindo com ele. Pensei é agora: vou comer essa mina.


Dei em cima direto, mas nada de ela me dar bola. Na festa da vitória na Epatur, eu e a minha namorada na época, comemorávamos a vitória ao som de MPB e no embalo de várias cevas. De repente, eis que surge o dito cujo e a guria. Mandei o mundo a merda e encarei direto. Ela num misto de nem aí e curtindo, mas mais pela vaidade do que por interesse em mim. Nunca mais vi nenhum dos dois.


Em 2008, voltando a pé do futebol. Com o corpo em paz e cheio de adrenalina, me deparo com o Ulisses vindo na mesma calçada com aquela cara de loser e a expressão deixada em algum lugar do passado. Presa fácil.


Duelo de cowboy. Só que o fator supresa na parada e todo meu. A Venâncio Aires virou Tombstone. Eu era o Doc Holliday, sem os caretões dos irmãos Earp. Ele era um dos Clayton louco pra ser abatido.


Um tapão rápido na cabeça. Problema resolvido. Cicatriz fechada. De repente uma rasteira e final feliz também. Mas a maldita civilidade falou mais alta e passei reto pelo CARA com CARA de loser.


Não bati nele, mas aquela carinha de derrotado e lobo solitário que não devora nem a mais gordinha das ovelhinhas me satisfez, cicatriz fechada. Mesmo que fosse impressão inverídica. Nem precisei da agressão física. Putz, mas seria bom, muito bom, ter dado um tapão naquela cabeça. Quem sabe na próxima. Te cuida, Ulisses.

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